Artigo

Saudade sempre saudade

Por Rubens Amador - jornalista

Faz muitos anos. Eu tinha um comércio de prestação de serviços. Ela era minha cliente periódica. Logo nas primeiras vezes que veio à minha firma, fiquei encantado com a sua beleza e sua delicadeza de trato. E pareceu-me que ela também em minha pessoa achou algo que a atraiu. Dessas coisas que a gente pensa. Mas ela e eu éramos casados. E por isto sempre nos tratamos com o maior respeito. A cada vez que vinha eu a achava mais linda. Entretínhamos conversas sobre a atualidade de então. Admirando-nos e sempre sorrindo-nos. Só uma vez lembro-me de ter pensado em falar sobre o que estava sentindo para ela. Mas não tive coragem. Eu não podia fazer isso. A cada vez que ela vinha, estava sempre acompanhada da filhinha, que tinha de dez a 12 anos.
O tempo passou, ela ficou em minha mente e nunca mais saiu. Os anos passaram; uns trinta ou quarenta. Mas toda vez que lembro daquele tempo que passou, a lembrança daquela senhora me vem! Por certo, ela como eu não somos mais física e intelectualmente os mesmos. Mas no meu interior nunca pude esquecer daquela criatura tão linda, bonita e simpática. E uma vontade enorme tomou conta de mim; de ouvir pelo menos a sua voz, agora que tanto ela quanto eu estamos viúvos, e é certo que jamais nos reencontraremos. Só a sua voz eu queria ouvir e perguntar-lhe se lembrava de mim. Enfim, iríamos conversar, acredito que em uma palestra amigável, pois lhe diria que nunca a havia esquecido, de suas idas ao meu comercio de então, e o quanto conversávamos. Gostaria de saber o que ela pensava. Iria perguntar-lhe se com ela se dera também aquele impacto emocional nos nossos encontros sempre tão respeitosos e que nos fazia feliz, pensava eu.
Pois um dia destes enchi-me de coragem e telefonei para o seu edifício (eu acreditava que os porteiros jamais poderiam dar os nomes dos moradores) e inventei que era de uma firma, e que desejava saber o telefone da freguesa, Sra. Fulana de Tal. Ele acreditou (penso eu) e deu-me o telefone. No outro dia chamei o seu número, mas depois vi que o porteiro deve ter lhe dito que uma "firma" deveria ter querido saber seu telefone e nesta época de tanta safadeza, por certo ela ficou pensando que se tratava de alguma vigarice e fez muito bem em não atender. Mas meu número ficou lá no seu telefone. Se em um dia destes quiser matar a minha saudade, eu muito agradeceria. O respeito é o mesmo. Tomara que ela leia o nosso jornal.

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